quinta-feira, 29 de março de 2012

Chuva irregular no Estado deixa homem do campo pessimista

Foto: Honório Barbosa
Pessimismo, ansiedade ou experiência, o fato é que o agricultor cearense está preocupado. A irregularidade de chuvas e a perda de parte do plantio já configuram uma previsão do homem do campo: "o inverno neste ano vai ser fraco". Em Limoeiro do Norte, plantações de milho já foram perdidas. Onde o sabugo não ficou nanico foi a própria planta que nem cresceu. Em Quixeramobim já se fala em decretar situação de emergência. O IBGE deve divulgar na primeira semana de abril o balanço mensal para a safra agrícola de 2012. A estimativa de produção já sofreu um recuo entre dezembro e fevereiro, mas ainda há chances de avanço especialmente na produção de feijão de corda. A Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) considera cedo para falar em prejuízo da safra.

Ver na televisão o tanto de chuva que tem caído em Fortaleza, enquanto só pinga no Interior tem causado desalento a muito agricultor do regime de sequeiro. "Cadê a chuva" é a frase em uníssono de muita gente. Em Limoeiro passa a maior parte do dia com céu nublado. "Mas chuva que é bom...", retruca Ananias Damasceno, que planta feijão e milho. Passado um mês e meio do início oficial da estação chuvosa no Ceará, o agricultor João de Sousa Lima ficou em desalento porque na semana do dia de São José (19 de março) precisou carregar baldes de água para sua plantação de milho e de feijão. "Mas sem ter muita água não deu muito certo não. Eu já arranquei milho murcho, já perdido, plantei de novo, mas tô vendo que essas plantinhas vão ficar na minha cintura", afirma o agricultor. Outro João, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Limoeiro, avalia que em outras áreas também já há prejuízo porque as chuvas estão irregulares. Na região do Cariri há vários hectares de terra em fase de replantio. A expectativa da SDA é que a nova colheita já seja bem melhor que a do primeiro trimestre. "As chuvas estão irregulares, mas o agricultor tem que aguardar mais um pouco, ainda estamos no mês de março. Se melhorar em chuvas entre este fim de março até início de maio, teremos garantia de safra", afirma Itamar Lemos, coordenador de Agricultura Familiar da SDA. Ele considera precipitado que os Municípios já tenham que falar em situação de emergência, pois ainda que chova pouco estão em campo outros projetos de convivência com o semiárido.

Reunião

Hoje acontece reunião na SDA para tratar da instalação de mais de quatro mil cisternas e 1.500 barragens subterrâneas. "O secretário Nelson Martins está trabalhando recursos no Governo Federal para instalar vários quintais produtivos", acrescenta.

O último Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, uma divulgação mensal do IBGE, apontou um recuo na expectativa de produção para 2012. Enquanto em janeiro se falava em 1.438.395 toneladas de grãos, o relatório de fevereiro apontou para 1.435.804 toneladas, ou 0,18% a menos que a projeção inicial. A preocupação dos agricultores é que, passado mês e meio de quanto deveria já estar chovendo de forma razoável, o novo balanço reflita essa previsão de queda. O Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias (GCEA) do IBGE aponta que a perspectiva de um bom inverno ainda permanece. O próximo levantamento de safra deve ser divulgado na semana que vem com a indicação de um incremento na produção de feijão de corda.

Por enquanto, a estimativa é de que a produção nacional de grãos seja 160,3 milhões de toneladas, maior que de 2011. Mas a estiagem verificada no Nordeste deve provocar atualização deste quadro. No Ceará, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário tem 300 mil vagas para o recebimento do Seguro-Safra. Mas por enquanto, avaliam os especialistas, é preciso aguardar o que o céu reserva para o mês de abril.

Em Quixeramobim, maior Município do Sertão Central, o quadro de instabilidade pluviométrica já declina para estiagem. Por esse motivo a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) solicitou visita da equipe da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará (Cedec), com o objetivo de decretação de estado de emergência.

A reunião estava agendada para a tarde de ontem, na sede da Comdec. Segundo o coordenador do Comdec, Marcos Machado, a situação já é de calamidade. Nenhuma comunidade rural produziu ainda nenhum legume, nem mesmo feijão ou milho, principais cultivos da região.

Recebendo o aval da Cedec, a coordenação da Defesa Civil de Quixeramobim pretende recomendar ao chefe do Poder Executivo municipal a decretação de estado de emergência por estiagem. Acrescentou o coordenador local a situação como irreversível. Os danos também já são visíveis tanto na falta de água para consumo humano como pela insegurança alimentar.

A alternativa para assistência às 106 comunidades rurais afetadas está no aumento do número de carros-pipa e na liberação de auxílio econômico para as famílias e distribuição de cestas básicas. Atualmente estão sendo feitas dez rotas de abastecimento de água. Há necessidade de mais oito rotas destas.

A coordenação estadual da Defesa Civil recomenda prudência quanto à intenção dos Municípios decretarem situação de emergência tendo por motivo a estiagem. Todo decreto nesse sentido, ainda que realizado pela Defesa Civil municipal em consonância com a Prefeitura, precisa da legitimação pela coordenação estadual.

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